Tic-tac faz o barulho do relógio
na parede.
É quase inaudível. Um barulho
leve, que escuto no fundo da minha cabeça. É irritante e constante, e eu só o
escuto graças ao profundo silêncio que veio quando você deixou o cômodo.
Observo o vídeo-game que jogávamos, que você pausou as pressas ao anunciar que
estava com fome.
Poc-poc faz o barulho da pipoca
dançando na panela.
Viro-me no sofá e consigo ver
suas costas, depois da bancada da cozinha. Seus cabelos loiros brilham, mesmo
sob a fraca luz do lugar. Vou ser honesta: você parece um anjo. Um anjo
imperfeito, desengonçado e com as costas levemente encurvadas, mas ainda assim
um anjo.
Tap-tap faz o barulho de seu
tênis sob o chão de madeira.
Você aparece na soleira da porta,
com um enorme sorriso e os óculos tortos equilibrados na ponta de seu nariz. Em
suas mãos, um grande pote de pipoca para dividirmos. Você se senta ao meu lado,
e eu analiso aquele sorriso torto. Começo a contar seus dentes, e acabo rindo
de tão tolo que é isso. Você franze a testa e pergunta com um tom risonho o que
foi.
Bum-bum faz o barulho do meu
coração martelando no meu peito.
Mexo desconfortavelmente no sofá.
Digo que não é nada, e você dá de ombros. Começamos a comer, nossas mãos se
tocando ocasionalmente por acidente, me causando arrepios. Seu toque é macio e
gentil, e cada lugar da minha mão que encontra de surpresa com a sua queima.
Clop-clop faz o barulho da minha
língua estalando, desejando encontrar-se com a sua.
Cansada de fingir, coloco a
pipoca de lado. Você parece confuso, e olho dentro de seus lindos olhos cor de
pôr-do-sol e digo-lhe o que verdadeiramente sinto, tudo aquilo que estava
escondido dentro do meu coração. Você parece surpreso e se cala por um tempo.
Sinto-me uma estúpida e começo a abrir a boca para inventar qualquer desculpa
esfarrapada para sair dali, com lágrimas queimando meus olhos. Então, sem mais
nem menos você aproveita esse pequeno vão em minha boca para encaixar seus
lábios lá. Nem ao menos hesito antes de passar meus braços ao redor de seu pescoço,
unindo nossos corpos e retribuindo seu beijo.
Tic-tac, assim como o barulho do
relógio, é o nosso amor: perfeitamente sincronizado, com um completando o
outro.